O Dia Mundial da Bicicleta é comemorado nesta quinta-feira (3), com o objetivo de promover e incentivar a utilização desse meio de transporte saudável, econômico e sustentável. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2018, a data oficial é comemorada pelo segundo ano consecutivo em meio ao cenário pandêmico de Covid-19.
No entanto, ao contrário da grande maioria dos segmentos varejistas, que sofreu severos prejuízos econômicos, o mercado de bicicletas não apenas se manteve aquecido como ainda se fortaleceu diante das restrições impostas pelo novo coronavírus.
De acordo com balanço realizado pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), o ano de 2020 registrou média de 50% de aumento nas vendas de bicicletas em comparação a 2019. O pico ocorreu em julho do ano passado, quando houve um crescimento de mais de 118% no consumo deste produto, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Entre os modelos mais vendidos, aparecem as bicicletas de entrada, tanto urbanas quanto mountain bikes aro 29, com valores entre R$ 800 e R$ 2 mil. O levantamento da Aliança Bike ouviu centenas de lojistas, fabricantes e montadores de todo o país ao longo do ano passado e em janeiro de 2021.
“2020 foi um ano muito especial para o setor de bicicletas no Brasil, com crescimento na procura, nas vendas e no uso, seja para lazer, atividade física ou meio de transporte. Este aumento se deu especialmente porque a bicicleta se tornou uma espécie de símbolo no combate à pandemia, sendo inclusive indicada pela OMS”, avalia o diretor executivo da Aliança Bike, Daniel Guth.
Alta nos preços
Acompanhando a tendência, a loja e oficina Squadra Bike Shop, no bairro do Cambuí, em Campinas, constatou um aumento de aproximadamente 50% na venda de bicicletas e acessórios, bem como no volume de serviços de conserto, na média dos últimos 12 meses.
“Apesar das incertezas provocadas pela pandemia, o mercado de bicicletas conseguiu prosperar. Dentre os diversos fatores que motivaram este aumento, não só na cidade, como em todo mundo, observamos como fundamentais a migração de pessoas de outras atividades esportivas para o Mountain Bike e um grande número de novos ciclistas que, motivados pelas restrições de circulação, procuraram no esporte uma alternativa para a saúde mental e física”, aponta o proprietário da Squadra Bike Shop, Denis Rodrigues.
“Tivemos que reforçar nossos pedidos junto aos fornecedores, aumentamos o nosso quadro de colaboradores e por muitas vezes estendemos nossa jornada de trabalho para atender esta demanda”, relata Denis Rodrigues.
Paralelamente ao impacto positivo da pandemia nas vendas, o dono da Squadra Bike Shop revela ter recebido muitas reclamações de clientes sobre a alta nos preços. “Este aumento realmente aconteceu por causa da grande demanda por peças, pela valorização do dólar nos últimos meses, pelo aumento no valor das commodities (metais) que são matéria prima para a fabricação de bicicletas, assim como também pelo custo do frete marítimo”, enumera Denis Rodrigues.
De forma geral, o comerciante considera que ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelo setor de bicicletas no Brasil. “Recentemente, houve a revogação de um decreto federal que reduziria a alíquota do imposto de importação de 35% para 20%, o que é bem ruim visto que uma bicicleta paga aproximadamente 70% de impostos no país. Além disso, também não observamos políticas sérias de incentivo à mobilidade urbana, com a construção de ciclovias que permitam as pessoas circularem com segurança e tranquilidade. Apesar dos bons ventos, necessitamos de políticas públicas para que o setor se consolide e continue oferecendo à sociedade um meio de transporte e diversão saudável, democrático, não poluente e de baixo custo”, conclui Denis, que integra a associação “Ciclo Ativo Campinas”, que tem como objetivo lutar por questões relacionadas a mobilidade urbana, meio ambiente e políticas públicas de incentivo ao ciclismo.
Momento incomum em 30 anos de história
Uma das primeiras bike shops de Campinas, inaugurada em 1990, a ProSport Bike, na Avenida Orosimbo Maia, verificou crescimento em torno de 30% e 40% nas vendas e no faturamento em relação ao habitual. “Quando a pandemia começou, a gente ficou meio assustado, pois não sabia o que iria acontecer, mas depois de uns 10 dias as pessoas começaram a procurar uma maneira de se exercitar e ter lazer nos fins de semana, já que não podiam ir ao clube, à academia ou jogar futebol com os amigos. Com a falta de opção, muita gente se voltou para a bicicleta, um tipo de esporte que não é impactado pelas restrições de contato, pois é feito ao ar livre e de forma individual, sem gerar aglomeração”, diz o proprietário da ProSport Bike, Stefano Nardone.
“Quando vendemos uma bicicleta, logicamente acabamos vendendo outros produtos relacionados como capacete, itens de segurança e roupa, então houve aumento tanto de bicicletas quanto de outros itens relacionados”, destaca Stefano Nardone.
Ele explica que 90% das bicicletas no mundo inteiro são equipadas com sistema de câmbio, engrenagem e componentes da marca Shimano, mas a montadora não deu conta de atender ao mercado devido ao boom de vendas de bicicletas no mundo inteiro. “Leva tempo até uma indústria entender se isso é uma onda passageira ou um movimento contínuo para se adaptar”, pontua Stefano.
O dono da ProSport Bike acredita que a cada 10 novos usuários de bicicletas, pelo menos dois ou três vão continuar pedalando mesmo depois da pandemia. “Notamos vários iniciantes entrando neste mundo e não há dúvidas de que muitos vão acabar ficando. Bicicleta é que nem cachaça: uma vez que você toma, não larga mais. É algo muito prazeroso, dá saúde e você se relaciona com outras pessoas, então é um esporte muito bacana. Os modelos mais procurados são as mountain bikes, muito em função da nossa região ser bem abastecida com trilhas em Joaquim Egídio e Sousas. Até pessoas de outras cidades acabam vindo pra cá por causa disso”, salienta Stefano.
De acordo com Daniel Guth, o setor de bicicletas tem sido resiliente durante a pandemia, apesar das dificuldades do próprio mercado atender a demanda acima da capacidade ofertada. “De forma geral, o mercado continua crescendo. Os principais desafios dizem respeito à cadeia de fornecimento de componentes para montagem e reposição, como câmbios, selins, pneus, rodas, manopla e freios. A maior parte dos componentes é importada, vem do mercado asiático, especialmente China, Taiwan e Indonésia. Infelizmente, em 2021, ainda vamos sofrer com esse descompasso entre a demanda e a capacidade de ofertar bicicletas e componentes no desejo de novos ciclistas. Isso deve ser normalizado somente em 2022”, analisa o diretor executivo da Aliança Bike.
Esporte para todas as idades, mas com cuidado
Para o engenheiro civil aposentado Clovis de Oliveira Queiroz, de 77 anos, que pedala desde os nove anos de idade, a bicicleta representa alegria, saúde e diversão. “É um exercício saudável e aeróbico, além de ser muito gostoso ver as pessoas, o trânsito e até mesmo as crianças começando a andar de bike. Recomendo amplamente a prática, mas sempre com atenção e cuidado”, afirma Clovis, que é natural de Novo Horizonte, mas mora em Campinas há 12 anos.
Diariamente, ele tem o hábito de pedalar cerca de 10 quilômetros, seja na ciclovia Norte Sul ou nas proximidades do bairro Chácara da Barra, onde reside. “Comprei uma nova bicicleta pouco antes de chegar a pandemia, o que foi muito oportuno, pois passei a pedalar mais intensamente após. Muitas alternativas de esporte e lazer foram impedidas ou limitadas, assim pedalar é uma excelente alternativa. Investi também em acessórios de segurança e de aprimoramento da bike”, conta Clóvis.
“Acredito que o ciclismo, tanto esportivo quanto profissional ou de diversão, deve crescer e ser incentivado. Isso será saudável, ambientalmente amigável e simpático. Meu desejo é que o poder público tenha essa mesma opinião investindo em ciclovias e melhorando as já existentes. Os motoristas também devem ser instruídos e educados para respeitar e dar preferência às bicicletas, o que já é previsto no Código de Trânsito”, completa.
“Acredito que o ciclismo, tanto esportivo quanto profissional ou de diversão, deve crescer e ser incentivado. Isso será saudável, ambientalmente amigável e simpático”, avalia Clovis de Oliveira Queiroz.
De acordo com o “Caderno de Acidentalidade no Trânsito em Campinas 2020”, divulgado pela Emdec no último mês de maio, seis condutores de bicicletas morreram no ano passado, de um total de 61 vítimas fatais em acidentes de trânsito na cidade.
Serviço
Squadra Bike Shop
Endereço: Rua Comendador Querubim Uriel, 271, Cambuí – Campinas (SP)
Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira (9h às 18h) / Sábado (9h às 13h)
Fones: (19) 3327-2950 / (19) 99373-4991
E-mail: contato@squadrabike.com.br
Site: www.squadrabike.com.br
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